Quarta-feira, primeiro de junho, a Suíça inaugurará o mais longo túnel
do mundo de 57 quilômetros, o Túnel Ferroviário de Base de São Gotardo, 17 anos
depois de terem começado os primeiros trabalhos de perfuração. A prioridade é
para o transporte dos caminhões ou contentores, mas haverá também trens de
passageiros que atravessarão o túnel em 20 minutos a 200 km por hora. O destino
principal é o porto de Gênova, em plena expansão, dependendo de um
prolongamento das linhas férreas do lado italiano, em construção.
O maciço de São Gotardo faz parte dos Alpes suíços e pode ser considerado
como a espinha dorsal europeia. O novo túnel levará o tráfego dos países do
norte da Europa (Holanda, Bélgica, Alemanha, Polônia) ao sul, desembocando
perto da Itália para seguir para a região do Mediterrâneo.
Em termos de inovações e tecnologia, a Suíça, única financiadora do
túnel, utilizou a engenharia mais moderna, permitindo aos trens de passageiros
rodarem a 200 km por hora e os de carga entre 100 e 120 km por hora.
Em termos ambientalistas, o túnel foi a opção dos suíços contra a
passagem por suas estradas de rodagem das jamantas europeias de 28 a 40
toneladas, que, em princípio deverão atravessar a Suíça embarcadas por trens
até o Ticino, perto da fronteira com a Itália. Esse desafogamento das estradas,
livres dos caminhões holandeses, belgas, alemães, poloneses e ucranianos terá
uma enorme importância ecológica e revolucionará os transportes europeus. O
risco será a pressão do lobbyeuropeu dos transportes rodoviários, mas a Suíça
poderá aumentar o pedágio e facilitar o frete ferroviário.
Para se ter uma ideia da importância da obra, o túnel rodoviário do
Gotardo, inaugurado em 1980, com apenas 17 km de comprimento, tem um movimento
anual de mais de oito milhões de veículos. Com a transposição dos caminhões
para os trens do novo túnel ferroviário, esse túnel rodoviário deverá deixar de
ter os habituais engarrafamentos.
A comissária dos Transportes da União Europeia, a eslovena Violeta Bulc,
elogiou a Suíça pela construção do túnel dentro do prazo previsto e com poucos
reajustes no custo final de 20,5 bilhões de euros, tornando o tráfego norte-sul
europeu mais fluido e menos poluente.
Ao contrário do Brasil, onde as ligações ferroviárias continuam sendo
precárias e onde teria sido sabotado o projeto do trem-bala Rio-São Paulo, o
transporte ferroviário é incentivado e ampliado na Europa. Certas linhas de
trens-bala chegam a concorrer com os aviões, dada sua velocidade e o fato de
levarem os passageiros diretamente ao centro da cidade.
Por Rui Martins, de Genebra. Convidado pelo governo
suíço estará presente na inauguração e viajará no primeiro trem que atravessará
os 57 km do túnel, em vinte minutos.
Correio do Brasil – 28/05/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário